quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Prefeitura de Belo Horizonte insiste em mentir e em cometer injustiças sobre Política habitacional. Nota pública das Ocupações da Izidora, BPs, MLB e CPT.

Prefeitura de Belo Horizonte insiste em mentir e em cometer injustiças sobre Política habitacional.
Nota pública das Ocupações da Izidora, BPs, MLB e CPT.
   “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.” (Bertolt Brecht)
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e a Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (URBEL) insistem em mentir e em continuar cometendo injustiça sobre a Política habitacional, por vários motivos.
A PBH, nos últimos 7 anos, mais demoliu/destruiu casas do que construiu. Mais de 14 mil casas foram demolidas pela PBH nos últimos 10 anos para construir “casas” para automóveis, ou seja, para ampliar avenidas e construir viadutos - que podem cair, inclusive!. Assim, se cuida melhor da dignidade dos automóveis do que da dignidade humana. Injusto.
O déficit habitacional em BH estima-se que esteja acima de 150 mil moradias. Pesquisa da Fundação João Pinheiro, com dados de 2010, diz que, naquele ano, o déficit era de 78 mil moradias. Nos últimos 5 anos esse número aumentou muito.
O povo cansou de esperar em uma fila mentirosa, a fila da habitação, fila que - se é que existe - não anda e cuja lista de nomes nunca é apresentada. Não suportando mais a pesadíssima cruz do aluguel ou a humilhação que é sobreviver de favor, para diminuir o estrago que a PBH vem fazendo na área habitacional, o povo resolveu ir para Ocupações urbanas, onde, nos últimos 8 anos, já construíram mais de 12 mil casas dignas.
As Ocupações da Izidora (Rosa Leão, Esperança e Vitória), com cerca de 8 mil famílias, são Ocupações legítimas, justas e em franco processo de consolidação. Ocuparam terrenos abandonados que não cumpriam sua função social e já construíram mais de 5 mil casas por meio de autoconstrução. Em média, 10 mil reais por cada casa, e os moradores estão devendo cerca de 50% desse valor, pois muitos deles tiveram que pegar empréstimo para construir. Dia 17/09/2015, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), em julgamento de mérito de um Mandado de Segurança, manteve a decisão do Ministro Og Fernandes, que proíbe despejos das Ocupações da Izidora. Além dessa decisão favorável ao povo, há 31 ilegalidades nos processos de reintegração de posse da Izidora e na Operação Urbana Simplificada do Isidoro (o nome correto é Izidora, mulher negra quilombola que lavava roupa no ribeirão que passou a ter seu nome), conforme estudo apresentado pelo Grupo de Pesquisa Indisciplinar, da UFMG. O contrato com a Caixa Econômica Federal (CEF), para construir 8.896 apartamentos de 43 m², em prédios de 8 andares, sem elevadores, pelo Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV),  está suspenso por várias pendências, entre elas: a) a PBH mentiu para a CEF dizendo que tinha na área ocupada apenas cerca de 60 a 160 famílias em 27/12/2013, quando o contrato foi assinado. E a realidade é que desde julho de 2013 já existiam aproximadamente 8 mil famílias ocupando as áreas; b) pesquisa cartorial feita pelo padre Piggi na cadeia dominial da matrícula 1202 (documento da Granja Werneck S/A que consta do contrato da CEF), comprova que a documentação da Granja Werneck é falsa, forjada ilegalmente em cartórios, sem cadeia dominial e com título Torrens falso. Logo, se trata de terras griladas, terras devolutas que devem ser resgatadas e devolvidas ao Governo de MG.
A PBH/URBEL tem sido irresponsável no trato da gravíssima questão habitacional de BH, pois alimenta a especulação imobiliária, não dialoga com o povo das Ocupações urbanas e nem com os movimentos sociais que as acompanham. Prova disso é que as Ocupações urbanas, com cerca de 25 mil famílias em Belo Horizonte, estão excluídas do Conselho Municipal de Habitação.
  PBH/URBEL não priorizou construir moradias dignas para a população e agora, ardilosamente, quer colocar povo contra povo, ao tentar jogar a culpa pela falta de moradia popular nas Ocupações. As Ocupações são solução, e não problema.
As Ocupações da Izidora sempre estiveram abertas à negociação, desde que seja justa e ética. Não aceitamos despejos: nem vermelho e nem branco/humanizado. As Ocupações da Izidora já apresentaram mais de 10 propostas na Mesa de Negociação coordenada pelo Governo de MG. Há como compatibilizar o MCMV na Izidora com a continuidade de parte das Ocupações, mas para isso exigimos garantias em 7 pontos, tais como: A) Cadastro prévio e idôneo, com acompanhamento do Ministério Público, Defensoria Pública, PUC/MG e UNA, BPs, MLB e CPT; B) Construção do MCMV em várias etapas para viabilizar, sem maiores transtornos, o reassentamento de todas as famílias que precisam e que estão vivendo nas Ocupações; C) Desapropriação, regularização fundiária e urbanização de toda a Ocupação Rosa Leão e das partes das Ocupações Vitória e Esperança que estão fora do MCMV; D) Auxílio pecuniário de 500 reais para cada família até o reassentamento; E) Comitê gestor plural; F) Mudanças no contrato com a CEF, que garantam reassentamento, rediscussão das áreas comerciais e critérios que não excluam quem mora e precisa. Com tantos cortes no orçamento do Governo Federal haverá dinheiro para construir MCMV na Izidora?
Respeitamos os núcleos de moradia, mas repudiamos a PBH tentar nos dividir para dominar. Há diversas formas de se lutar. Alertamos que muita gente que está nas Ocupações se cansou de esperar na fila da habitação. Os núcleos têm o direito e o dever de pressionarem a PBH para que construa “pra ontem” moradia digna, mas culpar as Ocupações pela falta de moradia em BH é injustiça, é inverter as responsabilidades: as Ocupações são consequência da falta de política habitacional séria, e não a sua causa. Reafirmamos que as Ocupações têm construído mais casas do que a PBH. Repudiamos a postura da PBH que tenta dividir os Sem-casa e o Povo das Ocupações.
A PBH alega que não há terrenos, mas insistiu em vender 129 terrenos da municipalidade. No Barreiro há muitos terrenos grilados que já deveriam ter sido resgatados e destinados a um grande programa habitacional.
Ainda vale lembrar que o Povo das Ocupações luta também pela reforma urbana, para que toda a cidade seja acessível, segura, sustentável e atenda a todas e todos que a constroem cotidianamente, coletivamente.
Enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito. De cabeça erguida, em luta coletiva, seguiremos batalhando por moradia própria, digna e adequada para todas e todos.

Belo Horizonte, 24 de setembro de 2015.

Assinam essa nota:
Coordenações das Ocupações da Izidora (Rosa Leão, Esperança e Vitória)
Frente Pela Reforma Urbana das Brigadas Populares em Minas Gerais (BPs)
Comissão Pastoral da Terra (CPT)
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB)


Contatos para maiores informações: frei Gilvander (31 9473 9000); Charlene (31 8534 4911); Rose (31 8941 2083); Elielma (31 9343 9696); Isabella (31 9383 2733); Leonardo (31 9133 0983).

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

MANTIDA A SUSPENSÃO DO DESPEJO DAS OCUPAÇÕES DA IZIDORA NO STJ!

MANTIDA A SUSPENSÃO DO DESPEJO DAS OCUPAÇÕES DA IZIDORA NO STJ! 
Nota do Coletivo Margarida Alves de Assessoria jurídica.

Conquistou-se hoje mais uma vitória histórica para a luta popular neste país!
As Ocupações da Izidora de Belo Horizonte e Santa Luzia, MG, assessoradas pelo Coletivo Margarida Alves, a Rede Margarida Alves e o escritório do Cezar Britto (ex-presidente da OAB Nacional), tiveram ontem, dia 17/09/2015, o seu recurso provido pela 2a Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para anular decisão anteriormente proferida pelo TJMG. Em sustentação oral realizada pela combativa Dra. Camila Gomes de Lima, ressaltou-se a incompetência absoluta da 6º Câmara Civil para analisar o Mandado de Segurança no qual se questiona o despreparo da Polícia Militar de Minas Gerais e do aparato estatal para realizarem o despejo, bem como a relevância social do caso, que atinge cerca de 30 mil pessoas.
Nesse julgamento que traz um precedente importantíssimo para as ocupações urbanas, os ministros ressaltaram a necessidade de se manter a suspensão do despejo, tendo em vista a alta complexidade do caso e o seu imenso impacto social. Afirmaram ainda que, em casos de remoção forçada, o poder executivo não pode se esquivar do cumprimento dos tratados internacionais e da legislação brasileira que garantem os direitos fundamentais dos ocupantes. Para os ministros, a força policial deve ser utilizada como último recurso e sempre observado o princípio da proporcionalidade.
‪#‎ResisteIzidora
Para maiores informações fazer contato com:
Thaís Lopes - 31 98820094
Mariana Prandini - 61 81010846
Isabela Corby - 31 96437703
Camila Gomes – 6182458828
https://www.facebook.com/coletivomargaridaalvesap?fref=ts

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Povo das Ocupações e das Favelas de mãos dadas eu quero ver. Por frei Gilvander Moreira.

Povo das Ocupações e das Favelas de mãos dadas eu quero ver.
Frei Gilvander Moreira.

Recebi um email do amigo Antônio Pinheiro, o pai do Chico Pinheiro da TV gLOBO, que me fez pensar: O dia que o povo das favelas se rebelar, assim como faz o povo das Ocupações, será a aurora de uma cidade justa e solidária, como a cantada pelo autor do Apocalipse: a Nova Jerusalém (Ap 21,1-7) – um novo céu e uma nova terra, uma Cidade Santa, com Deus, essência da justiça,  sendo amado e respeitado no nosso meio, uma cidade sem lágrimas, nem luto, nem clamor e nem dor. Serão novas todas as coisas! Enfim, uma cidade transfigurada, revolucionada, onde o público será de fato público. Sem especulação imobiliária, sem políticos, corruptos profissionais.
Escreveu-me Antônio Pinheiro: “Caríssimo frei Gilvander, Apóstolo dos Sem Teto e dos Sem Terra. Recebi seu e-mail sobre a constante ameaça de jogar na rua milhares de família das Ocupações da Izidora, em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG. Se a Igreja considerasse o pedido de Jesus: "Eu vim para que todos tenham vida e vida digna" (João 10,10), e realmente lutasse em favor dos pobres, essas autoridades insensatas não ousariam praticar tanta maldade para com os prediletos de Deus, os pobres. 
Jesus de Nazaré foi claro com relação à dedicação aos pobres: “Tudo que fizestes a um só dentre os menores desses meus irmãos, a mim, o fizestes (Mateus 25,40).” Anexo, envio-lhe um texto meu. Parabéns pelo seu apostolado. Conte sempre com a minha solidariedade. Abraços. Antonio Pinheiro.”
Feliz por ter a companhia de Antônio Pinheiro na luta em defesa dos sem-terra e sem-casa, resolvi socializar o e-mail e o texto que ele me enviou, abaixo, na esperança de que possa fazer bem a outras pessoas, assim como fez a mim.

FAVELADOS: ELES SÃO DIGNOS.
Por Antônio Pinheiro.

Lendo o jornal “Estado de Minas” de 14/08/2015 me deparei com o artigo: “Habitação popular e direito de escolha” de Ana Flávia Martins Machado, que além de vários títulos como, Mestre em Ciência Política, doutoranda em Sociologia pela UFMG, é coordenadora do Núcleo de Trabalho Técnico Social da Urbel /PBH. Ela descreve com muita sabedoria e conhecimento os direitos civis dos cidadãos que moram nas favelas.
A Ana Flávia também nos mostra o descaso dos órgãos públicos em relação àqueles cidadãos, que nos servem do nascer ao por do sol, mas são, entretanto, desconsiderados por nós, já que sequer tem os seus direitos constitucionais garantidos. Encanta a maneira como a Ana Flávia considera aqueles cidadãos. Jamais alguém pensou em um projeto como esse. Ela propõe “trazer a favela para dentro da cidade, permitindo que os seus moradores usufruam dela.”
Aqui me lembro do meu filho, Francisco, que em uma entrevista- ao jornal “Globo” exigiu que a mesma fosse realizada na favela da Rocinha, Rio de Janeiro, porque “nós temos uma dívida horrorosa com os nossos irmãos que moram nas favelas.” Segundo o IBGE, senso de 2012, 60% (151 milhões) dos brasileiros sobrevivem com a renda de até 1 salário mínimo, entretanto são eles que constroem e fazem funcionar a cidade. E ainda assim são mal vistos perante os nossos administradores públicos.
Em 1971, em companhia de dois amigos, fui à Prefeitura pedir ao prefeito que levasse água e luz à favela do Cafezal. Com um sorriso irônico ele respondeu: ”Não faço nada pelo favelado, o favelado não é cidadão, ele não paga impostos.” A mentalidade de hoje, do chefe do executivo, não difere muito daquele prefeito de 40 anos atrás. Chocado me veio o pensamento:
 
 AFINAL, QUEM SÃO ELES?            
Um povo esquecido, marginalizado, injustiçado,
que veio para nos servir do nascer ao por do sol;
do berço à sepultura,
Questione e reflita:
Se os favelados fizessem greve por um dia?
O transporte público funcionaria?
Seu colégio aulas daria? Seu dia, como seria?
Quem sua rua varreria? Quem seu lixo recolheria?
Quem seu jardim podaria? Quem sua roseira plantaria?
Quem sua casa construiria? Quem seu prédio guardaria?
Quem seu filho protegeria? Sua vida, como seria?
Quem a sepultura abriria? Quem os mortos sepultaria?
Se os favelados fizessem greve por um dia...
Pensem nisso!    
Pensemos na nossa dívida com os moradores dos aglomerados da cidade.
Lutemos por eles!                            
Jesus disse: “Eu vim para que todos tenham vida, e vida digna.” (João – 10,10).”
= = = =
Diante do email e do texto de Antônio Pinheiro, pessoa que se faz presente nas lutas dos Sem Casa de Belo Horizonte e demonstra apoio e solidariedade de diversas maneiras, fiquei pensando e sonhando com o dia em que, de fato, as Ocupações Urbanas e as Favelas, em Belo Horizonte e no Brasil, darão as mãos e marcharão de mãos dadas.
São as Ocupações e as Favelas que constroem as cidades e as mantém funcionando. Os trabalhadores que moram nestes territórios estão nas fábricas, nas empresas, nos shoppings, nas Igrejas, nas limpezas das cidades, como domésticas nas casas das famílias de classe média e das altas classes, nas construções dos grandes empreendimentos imobiliários etc. São estas pessoas que assumem o trabalho pesado, que “põem o motor das cidades para funcionar.”
Mas um dia este sonho será realidade e em parte já está sendo: cada vez mais estas pessoas estão conscientes de seus direitos enquanto cidadãos e mais: conscientes do tamanho da exploração que diariamente recaem sobre elas. As lutas, cada vez mais, já acontecem de forma articulada e em conjunto, como é o caso da Izidora, formada por três Ocupações – Rosa Leão, Esperança e Vitória - e das Ocupações como um todo que já fizeram lutas no âmbito do Estado de Minas Gerais e Lutas nacionais. Mas sonhamos com o momento em que as Ocupações e as Favelas lutarão juntas.
Chegará o dia em que, de fato, estas pessoas e grupos de pessoas dirão: Basta! Chega de injustiça!

Belo Horizonte, MG, Brasil, 20 de agosto de 2015.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

PM de MG reprime de forma cruel manifestação pacífica contra o aumento injusto e abusivo das passagens de ônibus em Belo Horizonte.

PM de MG reprime de forma cruel manifestação pacífica contra o aumento injusto e abusivo das passagens de ônibus em Belo Horizonte.
Frei Gilvander Moreira[1]

Não bastasse o ocorrido no dia 19 de junho de 2015, na Linha Verde (MG 010), perto da Cidade administrativa, quando a tropa de choque da Polícia Militar de Minas Gerais (PM de MG) reprimiu de forma violenta uma Marcha pacífica de umas 3 mil pessoas das Ocupações da Izidora – Rosa Leão, Esperança e Vitória -, de Belo Horizonte e Santa Luzia, MG. Feriram umas 90 pessoas, prenderam umas 40. Muitas crianças, idosas, gestantes, cadeirantes, pessoas com deficiência, junto com todo o povo, receberam rajadas e mais rajadas de tiros de balas de borracha de policiais e quase ficaram sufocados por tanto gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Uma bomba de gás jogada, não sabemos se do helicóptero da PM ou dos policias em terra, caiu no colo de Alice, uma criança de 8 meses de idade, que estava em um carrinho de bebê. A mãe, Cleiciane, subitamente retirou a criança do carrinho, o que fez a bomba cair no chão. Cleiciane ainda conseguiu correr com a criança que chorava quase sufocada com a nuvem de gás lacrimogêneo. Por milagre, a PM de MG não assassinou uma criança de 8 meses, que junto com sua mãe, seu pai e sua irmãzinha, outra criança, lutavam por moradia digna. A PM de MG cometeu mais uma barbaridade.
No ocorrido no recente dia 19 de junho de 2015, como dito acima, não senti no meu corpo diretamente essa truculência da PM de MG, porque a mamãe, Leontina, tinha falecido naquela madrugada. Por isso tive que viajar às pressas para Brasília de avião. Mas dia 12 de agosto de 2015, eu experimentei no meu próprio corpo a crueldade da PM de MG, durante uma Manifestação pacífica dos Movimentos Sociais Tarifa Zero e Pelo Passe Livre, no centro de Belo Horizonte e não posso me calar diante do que vi, ouvi e senti.
A concentração se deu na Praça Sete, coração de Belo Horizonte (BH), às 17:00h. Por volta das 18:00h, saímos em marcha, cerca de 2 mil pessoas, jovens indignados com o 2º aumento, ilegal e abusivo, em seis meses, dos preços dos ônibus em BH. Em Marcha pela Av. Afonso Pena, após rodearmos o pirulito da Praça Sete, uns 100 metros à frente, a tropa de choque já estava a posto para atacar e impedia a Marcha. Eu me aproximei do tenente coronel Jean Carlo, comandante da tropa de choque, e, junto com duas jovens, tentamos dialogar com o comandante que alegava que pelo menos uma faixa deveria ser liberada. Mas a Marcha era sem carro de som e sem megafone. Ponderei com o comandante: “Sem carro de som aqui, será difícil dialogar com todos para liberar pelo menos uma faixa da avenida. Sugiro que você, comandante, deixe a Marcha seguir pelo menos até à prefeitura de BH. Assim chegaremos lá mais rápido e incomodará menos o trânsito.” Após refletir, o ten. Cel. concordou. A tropa de choque recuou e se postou mais adiante.
Vendo que a tropa de choque tinha montado bloqueio mais à frente, o povo da Marcha resolveu subir a Rua da Bahia. Próximo à entrada da prefeitura pela Rua Goiás, o povo vaiou o prefeito de BH e repudiou o novo aumento absurdo da tarifa dos ônibus. A tropa de choque montou bloqueio na Rua da Bahia antes do cruzamento com a Av. Augusto de Lima e não deixava ninguém ultrapassar. Tentamos mais uma vez dialogar com o ten. Cel., mas, de longe, o comandante reagiu: “Não tem mais conversa.” Um major falou: “Dois minutos para vocês liberarem a rua.” Um minuto após, iniciou-se rajadas de tiros de balas de borracha e de bombas de gás lacrimogêneo. Correria geral para tentar se salvar. Enquanto eu corria evitando pisotear a multidão que estava na minha frente, tiros e mais tiros, bombas explodindo, e uma nuvem de gás lacrimogêneo nos envolvia. Um jovem que corria ao meu lado gritou: “Me balearam. Ai, ai, ai...” Puxando-o pela mão, conseguimos entrar em um vão livre, que depois ficamos sabendo ser a entrada de um hotel. Rajadas de tiros e bombas explodindo continuavam na Rua da Bahia. Após poucos minutos, uma nuvem de gás lacrimogêneo invadiu a entrada do hotel, onde nós, uns 200 jovens, buscávamos refúgio. Começamos todos a ficar sufocados. Tosse e olhos lacrimejando e ardendo. Senti como se estivéssemos dentro da casa de show em Santa Maria, RS, aquela onde 243 jovens morreram sufocados por gás carbônico (fumaça). Quase não conseguindo mais respirar, gritei: “Vamos todos tentar sair para a rua, se não vamos morrer aqui sem poder respirar.” Conseguimos abrir uma porta e fugimos para a rua onde a PM ainda dava tiros. Soube depois que a PM tinha encurralado e detido um grupo na entrada desse hotel. Corri tossindo, enxergando mal, pois os olhos ardiam muito. Somente na segunda quadra encontrei jovens que se amparavam uns aos outros. Um jovem borrifou leite de magnésio no meu rosto, o que me causou um grande alívio.
No meio do sufoco, vi companheiros feridos por tiros de bala de borracha e ensanguentados. Uma pessoa, assustada, me disse que por questões cardiológicas, tomava AS todos os dias, o que a mantém com o sangue ralo. Isso impede obstrução de artérias, mas dificulta a coagulação. Percebi que se o tiro que acertou as nádegas de um jovem ao meu lado, tivesse acertado essa pessoa, ela poderia morrer por hemorragia antes de chegar ao Pronto Socorro.
Fiquei sabendo depois que um ciclista tinha sido pisoteado e, mesmo caído, continuava recebendo bombas da PM. Um motoqueiro que passava nas proximidades bateu a moto e levou uma grande queda, por causa da correria da multidão. Uma jovem que passava pelo local, se deitou no chão temendo levar tiros da polícia, mas, deitada no chão, sentia várias bombas de gás explodindo ao seu lado. Outro jovem a levantou e saíram correndo temendo o pior. Cerca de 60 jovens foram detidos e dezenas de jovens ficaram feridos. 
A PM alegava estar ali para garantir o direito de ir e vir das pessoas em automóveis, mas agindo assim, além de ferir dezenas de manifestantes, de prender dezenas, pisar no direito constitucional de manifestação, a PM bloqueou o trânsito na Rua da Bahia e no entorno durante cerca de 6 horas, até à meia noite.
Isso demonstra que infelizmente não estamos em um Estado democrático de Direito, mais debaixo de uma ditadura do capital. Direito de ir e vir? Sim, mas para todos e não apenas para quem tem carro, pois se o preço da tarifa de ônibus sobe abusivamente, milhares de pessoas terão o seu direito de ir e vir negado porque, não podendo pagar, serão impedidas de viajar nos ônibus.
O direito de ir e vir, direito individual da modernidade, não pode estar acima dos direitos sociais, entre os quais está o direito ao transporte público de qualidade e econômico. A ação da PM foi contra a Constituição. Não há escolha entre liberdade de expressão e integridade física e moral. Isso não é crime de responsabilidade? O ataque da PM não foi análogo à repressão aos professores em Curitiba no Paraná?
Se a PM de MG continuar com essa truculência, legado covarde da COPA de 2014, em breve, teremos que velar e sepultar os que serão mortos pela PM de MG em manifestações. Feliz quem lê os sinais dos tempos e dos lugares. Essa postura beligerante da PM só aumentará a violência social que, infelizmente, está crescendo muito.
Com dom Oscar Romero, martirizado em 24 de março de 1980, digo: "Se denuncio e condeno a injustiça é porque é minha obrigação como pastor de um povo oprimido e humilhado... O Evangelho me impulsiona a defender meu povo e em seu nome estou disposto a ir aos tribunais, ao cárcere e à morte... Nenhum soldado está obrigado a obedecer uma ordem contrária à lei de Deus  que diz: “Não Matar.” Uma lei imoral não deve ser cumprida por ninguém. Soldados, Governador Pimentel, em nome de Deus e no nome deste povo sofrido, cujos clamores sobem até ao céu cada dia mais tumultuosos, lhes suplico, lhes rogo, lhes ordeno em nome de Deus: cessem a repressão.”
Belo Horizonte, MG, Brasil, 14 de agosto de 2015.



[1] Padre da Ordem dos Carmelitas, bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia, mestre em Exegese Bíblica/Ciências Bíblicas, doutorando em Educação na FAE/UFMG, assessor de CEBs, CPT, CEBI e SAB; e-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.freigilvander.blogspot.com.br - www.gilvander.org.br – no face: Gilvander Moreira


quinta-feira, 13 de agosto de 2015

De forma ilegal, PM de MG anuncia despejos das Ocupações da Izidora, em Belo Horizonte, MG. Governo de MG atropela negociação mesmo as Ocupações entregando mais uma Contraproposta de negociação. Massacre anunciado! Clamamos por justiça, paz e sensatez!

De forma ilegal, PM de MG anuncia despejos das Ocupações da Izidora, em Belo Horizonte, MG. Governo de MG atropela negociação mesmo as Ocupações entregando mais uma Contraproposta de negociação. Massacre anunciado! Clamamos por justiça, paz e sensatez!
Nota Pública. Belo Horizonte, MG, 13 de agosto de 2015.

Ontem à tarde, dia 12/08/2015, coordenadoras das Ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória – Ocupações da Izidora -, em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG, receberam de policiais um Ofício assinado pelo Ten. Cel Queiroz convidando para reunião no 13º Batalhão de Polícia Militar, no Planalto, em BH, amanhã, sexta-feira, dia 14/08/2015, às 16:00h, onde será anunciado que os despejos das Ocupações da Izidora poderão acontecer a partir de segunda-feira, dia 17/08/2015. Isso é gravíssimo, por vários motivos: a) Já afirmamos e reafiramos que despejos forçados podem causar massacre de proporções inimagináveis; b) Está em curso um processo de negociação que precisa ser levado a acordo para que de forma justa, ética e pacífica possamos resolver um dos maiores conflitos agrários e sociais do Brasil.
Dia 29/07/2015 coordenadoras das Ocupações das Izidora leram em reunião da Mesa de Negociação na Cidade Administrativa uma série de Princípios que demonstram de forma inequívoca que e as coordenações, as Brigadas Populares, o MLB e a Comissão Pastoral da Terra estão se esforçando ao máximo para negociar e há, sim, espaço para celebrarmos um acordo que impeça um derramamento de sangue e caos. Os Princípios são as condições mínimas para a aceitação da proposta de negociação do Governo do Estado, Prefeitura e Direcional garantindo minimamente a dignidade e o direito à moradia das famílias que vivem na Izidora e que efetivamente precisam. Os seguintes princípios mostram de forma inequívoca a abertura para negociação:
Princípio 1: Todas as famílias que efetivamente precisam e vivem nas Ocupações-comunidades da Izidora, em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG, serão incluídas na proposta negociada. Fundamentos legais: Art. 6º, CRFB/88; Artigo XXV, Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948; Art. 11 do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966 - PIDESC (Ratificado pelo Brasil, Decreto nº 591/92); Comentário Geral nº 04 e nº 7 ao PIDESC do Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre o direito à moradia; Portaria nº 317/2013 Ministério das Cidades; e Art. 2º, I, Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001).
Princípio 2: Todo reassentamento será em condições iguais ou superiores às anteriores. O morador deverá poder escolher entre uma solução de moradia vertical ou horizontal. Fundamentos legais: Portaria 317 do Ministério das Cidades; Comentário Geral nº 7 ao PIDESC.
Princípio 3: Regularização e urbanização de todo o território das Ocupações-comunidades da Izidora que está fora do Projeto MCMV (Minha Casa Minha Vida). Fundamentos legais: Art. 2º, XIV, Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001); e Lei 11.977/2009, artigo 48.
Princípio 4: As famílias só sairão de suas casas com a certeza do local e das condições exatas de reassentamento definitivo. Fundamento legal: Comentário Geral nº 7 ao PIDESC.
Princípio 5: Participação dos movimentos e moradores e transparência em todo o processo. Para isso deve-se construir um Comitê Gestor Popular e Plural de construção e implementação dos acordos, com participação das coordenações das comunidades, dos movimentos sociais, das universidades, Ministério Público, Defensoria Pública de MG (DPE/MG), poder público Municipal e Estadual. Além disso, todos os acordos estabelecidos devem ser homologados em juízo e vinculados aos processos de reintegração de posse. Fundamentos legais: Art. 2º, II e arts. 42 e 43 do Estatuto da Cidade (Lei 10257/2001) e Portaria nº 317 do Ministério das Cidades.
Princípio 6: Intervenção no empreendimento habitacional: rediscussão de modelo condominial, das áreas comerciais e dos equipamentos públicos.
Princípio 7: Todo acordo depende da realização de um cadastramento idôneo e prévio de todos os moradores da Izidora pelo poder público, universidades, movimentos e coordenações. Os critérios de cadastro e de reassentamento deverão considerar a diversidade e as especificidades das famílias. Todo processo de cadastro deve ser discutido detalhadamente com todos os atores envolvidos e deve ser agendado com antecedência. Deverá ficar claro antes do cadastro os critérios de seleção das famílias nas diferentes soluções de reassentamento a serem construídas pela mesa.
Esses Princípios demonstram que as Coordenações e os Movimentos estão dispostos a liberar os terrenos onde, segundo a PBH, será construído o Programa MCMV, mas exigem garantias de que todas as famílias que estão morando nas ocupações e que de fato precisem sejam reassentadas e que os terrenos que estão fora do Projeto do Minha Casa Minha Vida – Toda a Ocupação Rosa Leão, e uma pequena parte de as Ocupações Esperança e da Vitória – permaneçam e que seja regularizadas.
Por causa do sufoco pela pressão do Estado e do capital ainda não tivemos tempo de dialogar com as famílias sobre essa nova Contraproposta, mas se tivermos a anuência do Governo de MG, da Construtora Direcional e da PBH, faremos uma mutirão de diálogo com todas as famílias para encaminharmos uma solução justa, ética e pacífica sem precisar de uso de força pela PM e nem de derramamento de sangue.
Os/as advogadas/os do Coletivo Margarida Alves, em Nota, afirmam que é acintoso desrespeito à Liminar do STJ, do Ministro Og Fernandes que proíbe os despejos enquanto não for julgado o mérito da liminar. O contrato da caixa é ilegal e está suspenso. Não há ainda dinheiro para iniciar o MCMV.
O despejo das três ocupações-comunidade da Izidora (Rosa Leão, Esperança e Vitória) consolidadas há mais de dois anos, se permitido, será o maior massacre contra o povo pobre de Belo Horizonte. A PM-MG já revelou o seu despreparo na repressão da manifestação do povo da Izidora durante a manifestação de 19/07, quando mais de 40 pessoas foram presas e mais de 100 ficaram feridas entre as quais crianças, idosos e mulheres grávidas que marchavam pela MG-10. E ontem, com o ataque violento que a PM de MG perpetrou contra milhares de pessoas que se manifestavam ontem à tardezinha e início de noite no centro de BH pela redução do preço da tarifa de transporte. Uma chuva de tiros de balas de borracha e de bombas de gás lacrimogêneo deixou dezenas de pessoas feridas e cerca de 50 presos.
Clamamos para que o Governo do Estado e o Governo Federal reestabeleça a negociação com as ocupações urbanas e cumpra a sua palavra diante de milhares de famílias pobres que tinham muita esperança de que um novo ciclo de relações com o Estado se estabeleceria.
Imploramos por socorro a todas as pessoas da grande Rede de Apoio do RESISTE IZIDORA e clamamos por apoio de todas as pessoas de boa vontade e autoridades do judiciário, do legislativo e executivo em níveis municipais, estaduais e federais.
Pedimos uma posição firme do arcebispo dom Walmor e dos bispos da arquidiocese de BH.
Em nome do Deus da vida, dos milhares de crianças, de idosos, de pessoas com deficiência e em nome da dignidade de todas as pessoas das milhares de famílias das Ocupações da Izidora imploramos por justiça, ética e abertura da continuidade do processo de negociação.

Não pode acontecer um grande massacre em terras mineiras na Izidora.
Assinam essa Nota,
Brigadas Populares - Minas Gerais;
Comissão Pastoral da Terra (CPT);
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB);
Coordenação das ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória;
Rede de Apoio.



terça-feira, 11 de agosto de 2015

Betim, MG, com déficit habitacional de 65 mil moradias. As Ocupações de Betim não aceitam despejos sem alternativa digna prévia. Nota de esclarecimento.

Betim, MG, com déficit habitacional de 65 mil moradias.
As Ocupações de Betim não aceitam despejos sem alternativa digna prévia. Nota de esclarecimento.

1     - Qual é a situação hoje dos integrantes das duas ocupações (Dom Tomás Balduíno e Nova Canaã)? Onde eles estão alojados? Quantas famílias e quantas pessoas estão em cada uma delas?
As famílias da Ocupação-comunidade Dom Tomás Balduíno, de Betim, MG, estão atualmente tentando dar andamento no acordo feito com o município de Betim, tal seja, de que o município doaria o terreno a uma entidade cadastrada no MCMV Entidades de indicação das famílias, o que já foi feito. As famílias Indicaram o Movimento de Lutas nos bairros, Vilas e Favelas (MLB) entregando toda documentação ao município no prazo acordado. Em razão de tal acordo o processo judicial encontra-se suspenso ate abril de 2016 ou até que o acordo seja cumprindo. Hoje vive na ocupação cerca de 120 famílias em casas de alvenaria.
Com Relação à Ocupação-comunidade Nova Canaã a ordem de despejo pode ser cumprida a qualquer momento pela PMMG, embora tenha uma Mesa de Negociação no Governo Estado de MG através da COHAB. As negociações pouco avançaram ao passo que a proposta do Município não atende as famílias. A prefeitura oferece apenas Aluguel social de R$350,00 e inclusão na fila do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) e a promessa de que as famílias irão receber tal beneficio até o empreendimento ser entregue. Porém, tal proposta não atende as famílias, pois tal: valor não é suficiente para pagamento de aluguel na cidade; não há qualquer previsão de empreendimento do MCMV para cidade; o cadastro realizado pela prefeitura serviu apenas para desqualificar as famílias que atualmente moram na ocupação, pois segundo a prefeitura apenas 15 famílias se enquadram nos critérios do aluguel social e este seria fornecido apenas a estas famílias. Hoje se encontram na ocupação-comunidade Nova Canaã cerca de 90 famílias em casas de alvenaria. Diante isso e da situação econômica do município que seria onerado em cerca de 30 mil reais mensais com tais pagamentos de aluguel social e ainda a não comprovação da destinação do terreno (desocupar p terreno, demolir 90 casas, para deixar novamente vazio?) as famílias apresentaram a seguinte proposta: Aceitam entrar no cadastro no MCMV, mas até que o empreendimento seja entregue propõe permanecer no local não causando nenhum prejuízo financeiro ao município ou ao estado.

2     - Ao pedir a reintegração de posse, o que alegou a prefeitura e qual solução para o impasse (para onde a prefeitura de Betim direcionou essas famílias?) foi sugerida pelo governo municipal?
A prefeitura alegou apenas que é proprietária do terreno. Porém na mesa de negociação tem falado que o terreno será destinado para uma Unidade Básica de Saúde (UBS), mas não apresentou projeto, nem de onde vem recursos para construção da mesma. Vale ressaltar que no início a alegação era a construção de uma creche e nas últimas mesas passou a ser UBS. É nítida a falácia da construção de UBS, sendo essa uma manobra midiática para colocar a sociedade contra os moradores da ocupação, tendo em vista o péssimo quadro da saúde em Betim a construção de uma UBS justificaria o despejo das famílias e não causaria o desgaste político de um despejo forçado.

3 - A prefeitura deu prazo para realizar o cadastro das famílias, cujo objetivo é verificar se elas se enquadram nos critérios estabelecidos para receberem benefícios sociais ofertados pelo município?
Foi realizado um cadastro pela prefeitura apenas na Ocupação-comunidade Nova Canaã, porém de forma muito questionável e apenas com o intuito de desqualificar o maior número possível de famílias, alegou que apenas 15 famílias se enquadraram nos critérios do aluguel social, mas em nenhum momento deixou a lideranças ter acesso a tais cadastros.
4 - Você sabe me dizer quantas ocupações a cidade tem hoje?
A cidade de Betim tem cerca de 35 Ocupações de pequeno e médio porte. O déficit habitacional no município de Betim, MG, hoje (segundo a própria Superintendência de Habitação) é de 40.000 unidades (número este da fila no MCMV), segundo os movimentos sociais este numero pode chegar a 65.000 unidades, pois muitas famílias não acreditam mais no programa e sequer fazem o cadastro.
5 - Como as duas ocupações avaliam os programas habitacionais existentes na cidade? Eles contemplam as famílias que, de fato, precisam desse benefício?
Não existem programas habitacionais na cidade que atenda a população empobrecida. O atual governo ainda está entregando empreendimentos do MCMV que foram conquistas do governo passado. Ademais a atual gestão municipal não busca outras alternativas para política habitacional, apoiando-se apenas na muleta do programa do governo federal MCMV, que é paliativo, injusto em seus critérios e um ótimo negócio para os empresários da construção civil.
Lado outro, o Governo federal suspendeu por tempo indeterminado o MCMV faixa 1, que é justamente o que atente as famílias de baixa renda (Renda familiar de até R$1.600,00 apenas), e a quase um ano vem adiando o lançamento do MCMV 3, sendo que este, se for lançado, será minguado, e pode não contemplar a modalidade Entidades, que é a única que atende as camadas mais pobres da população com efetiva dignidade
Há uma grande contradição colocada no espaço urbano brasileiro: muita casa sem gente, muita gente sem casa! São 5,9 milhões de domicílios vagos enquanto o déficit habitacional é estimado em 5,7 milhões. Logo, não basta construir novas moradias. É preciso reforma urbana pra valer. Durante o MCMV 1 o déficit habitacional aumentou em 1,7 milhão de moradias. Uma política urbana efetiva deve atentar-se para isso e não apenas para a construção de novas moradias.
Nos últimos dois meses, tivemos cerca de um despejo por semana na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O Governo do Estado claramente escolheu um lado: cumprir seus compromissos com o capital imobiliário e rasgar o acordo que o Governador Pimentel estabeleceu com as ocupações de Minas Gerais onde estava previsto que o novo governo não faria despejos no campo ou na cidade sem alternativa de moradia digna prévia.
Em Betim é nítida a opção que o governo municipal faz em governar para os ricos em detrimentos dos empobrecidos. O desrespeito ao direito humano fundamental da moradia é apenas mais um exemplo disso. Para os empresários, tudo o que permite um tratamento VIP, para os que mais precisam o último lugar na fila das prioridades.
Em Betim, estão sendo construídos mais três hospitais particulares luxuosos enquanto o povo amarga na fila do SUS cada vez mais raquítico.
Assinam essa Nota:
Fórum das Ocupações de Betim
Brigadas Populares
Comissão Pastoral da Terra
MLB - Movimento de Lutas nos bairros, Vilas e Favelas
Os contatos para as entrevistas são:
Renivaldo Baiano 31 7156-6815
Dalila 31 9121-1762

Betim, MG, Brasil, 11 de agosto de 2015.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Ocupações Maria Guerreira e Maria Vitória/BH: Luta contra os despejos. 0...

Ocupações da Izidora apertam Caixa Econômica. Bela, em entrevista a frei...

Ocupações da Izidora apertam Caixa Econômica. Bela, em entrevista a frei...

Ocupações da Izidora apertam Caixa Econômica. Bela, em entrevista a frei...

Ocupações da Izidora apertam Caixa Econômica. Bela, em entrevista a frei...

Ocupações da Izidora lutando na Caixa Econômica em Belo Horizonte dia 06...

Ocupações da Izidora lutando na Caixa Econômica em Belo Horizonte dia 06...

terça-feira, 21 de julho de 2015

DESPEJO AGORA EM RIO ACIMA, MG, da Ocupação Vila Feliz: injustiça e covardia. Nota pública.

DESPEJO AGORA EM RIO ACIMA, MG, da Ocupação Vila Feliz: injustiça e covardia.  Nota pública.
“Toda família tem direito a moradia digna.” (Papa Francisco)

O despejo de 30 famílias da ocupação Vila Feliz, em Rio Acima, região metropolitana de Belo Horizonte, começou hoje de madrugada, terça-feira, dia 21/07/2015. As famílias foram cercadas por grande aparato de repressão da Policia Militar de MG desde o final da madrugada. Essas famílias ocupavam casas do Minha Casa Minha Vida, casas inacabadas e abandonadas há mais de 2 anos. Por que o Ministério Público e o judiciário não julgaram e puniram os responsáveis pelas casas inacabadas e abandonadas?
Na pouca negociação que aconteceu, o prefeito de Rio Acima, Wanderson Lima, mentiu para o povo sobre o bolsa aluguel, disse que daria e mesmo sem garantir, decidiu jogar as famílias na rua.
Já a nível estadual, apesar de ser "novo" o governo, agora do PT, esse nada fez para mudar a PM, que continua a mesma, reprimindo e servindo de cão de guarda dos ricos e das propriedades abandonadas. 
A área está congelada pela PM. Todas as entradas estão bloqueadas. A PM não deixa ninguém entrar, não deixa tirar fotos e nem registrar o despejo. Por quê? Para impedir que a injustiça venha à luz do sol? A PM só deixa sair. A PM proibiu uma pessoa de entrar na casa para buscar remédio para uma criança. Houve pessoas que desmaiaram. Os móveis de uma família foram queimados. Policiais jogaram spray de pimenta em uma criança que teve que ser levada às pressas para o hospital. Estão carregando os móveis das famílias não se sabem para onde. O povo está resistindo na rua.
Mais uma covardia contra nosso povo está em curso em MG. A revolta do povo é enorme. “De um lado, as famílias estavam abandonadas e do outro lado, as casas inacabadas e abandonadas. Umas 30 famílias ocuparam e estavam cuidando das casas e de seus filhos. Uma família está ficando em uma das casas com autorização da Prefeitura. Se uma família está ficando, por que as outras famílias não podem permanecer? Essa injustiça não podemos engolir,” denuncia uma moradora que acompanha do lado de fora, proibida de entrar na casa onde morou nos últimos meses.
Já foram presos sete pessoas: Anderson, Joubert, que são militantes do MLB, e outros 5 moradores.
Eis o Estado violento e violentador rasgando a Constituição que prescreve o direito a moradia e respeito à dignidade humana.
Enfim, o TJMG + a prefeitura de Rio Acima + o Governo de MG + a PM de MG + os cúmplices, os omissos e os coniventes estão fazendo mais uma sexta-feira da paixão, mas o povo dará a volta por cima e construirá um domingo de ressurreição com moradia digna para todos/as. Não dá para viver no ar! A luta por moradia digna vai continuar! Repressão a problema social só aumenta a indignação e agrava os problemas sociais.
Enquanto morar for um privilegio, ocupar é um direito!!!

Assinam essa Nota:
MLB - Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB
CPT – Comissão Pastoral da Terra

Contatos no local, na Ocupação Vila Feliz, em Rio Acima, MG:
Com Maria, cel.: 31 9366 2181 ou 31 92438958.



segunda-feira, 20 de julho de 2015

Cacique Babau Tupinambás do Sul da Bahia no IV Congresso da CPT, em Port...

Jesus de Nazaré e as CEBs: da Solidariedade à luta por Justiça. Por uma pedagogia emancipatória. 1a parte. Por frei Gilvander Moreira.

Jesus de Nazaré e as CEBs: da Solidariedade à luta por Justiça. Por uma pedagogia emancipatória.[1] (1ª parte).
Gilvander Luís Moreira[2]

 “O camponês de Nazaré, nessa luta nos reuniu. Vem conosco caminhar, pela Terra Livre Brasil...”  (Hino do 3º Congresso da PJR)
"Nada a temer senão o correr da luta / Nada a fazer senão esquecer o medo / Abrir o peito à força, numa procura / fugir às armadilhas da mata escura.” (Música Caçador de mim, de Milton Nascimento).
 
1 - A partir de uma experiência pessoal e social.
Nasci na roça, no campo. Fiz muitos calos nas mãos no cabo da enxada tocando roça à meia ao lado do papai José Moreira e da mamãe Leontina. Na hora da colheita, quando via o fazendeiro levar no caminhão a metade da nossa safra e quase toda a outra metade também, porque contraíamos dívida na sede da fazenda onde comprávamos, do plantio à colheita, açúcar, café, sal, remédios etc, dentro de mim, ainda criança, gritava uma voz: “Deus não quer isso. Isso não é justo.” Trago na minha memória essa indignação diante da opressão do latifúndio e dos latifundiários. Saí da roça, mas a roça não saiu de mim.

2 - Deus na história, o divino no humano.
O Deus do cristianismo é um Deus da história, quer dizer, age nas entranhas dos fatos e dos acontecimentos. O Deus da vida, mistério de infinito amor, não faz mágica. Desde que Deus, por infinito amor à humanidade, encarnou-se, o divino está no humano.
O Concílio de Calcedônia, no ano de 451, reconheceu Jesus Cristo com “natureza” divina e humana. O apóstolo Paulo reconhece que Jesus é o Cristo, filho de Deus, mas “nascido de mulher” (Gal 4,4), ou seja, humano como nós desenvolveu seu infinito potencial de humanidade. “Jesus, de tão humano, se tornou divino,” dizia o papa João XXIII.
“Não é ele o filho de Maria e José, o carpinteiro (Mt 13,55)?”. Progressivamente, na Galileia, Samaria e Judéia, Jesus se revela, à primeira vista, em aparentes contradições, mas, no fundo, com tal equilíbrio que chama a atenção de todos. Assim, ele testemunha que Deus é mais interior a nós do que imaginamos. A mística “encarnatória” revela a pessoa humanamente divina e divinamente humana. “Quem me vê, vê o Pai (Jo 14,9)”.
Jesus, antes de se tornar mestre, foi discípulo, mas como mestre continuou aprendendo. Antes de ensinar, aprendeu muito com muitos: com Maria e José, com o povo da sinagoga, com os vizinhos, amigos, com os acontecimentos históricos, com a natureza etc.
Somos discípulos/as de um jovem camponês, da periferia, que foi condenado à pena de morte pelos podres poderes da política, da economia e da religião. Somos discípulos de um mártir. Feliz quem não esquece a vida, o testemunho e o ensinamento dos mártires.
Jesus compreende a mulher acusada de adultério, mas ferve o sangue de ira santa contra os vendilhões do templo.

3 – Seis características da pedagogia emancipatória de Jesus de Nazaré, fundamentação bíblica para as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) na práxis da Solidariedade à luta por Justiça.
Jesus não nos salva automaticamente, mas testemunha um jeito de viver, melhor dizendo, um jeito de conviver, que é libertador e salvador. Vital é prestarmos atenção no jeito e como Jesus ensina e atua. Faz bem prestarmos atenção no processo pedagógico efetivado por Jesus, processo esse que será base bíblica para o povo das Comunidades Eclesiais de Base ser militante do Reino de Deus da solidariedade à luta por Justiça. Trata-se de uma Pedagogia emancipatória com muitas características, entre as quais, destacamos aqui seis.
3.1) Luta a partir da periferia, a partir dos injustiçados. O Evangelho de Lucas interpreta a vida, as ações e os ensinamentos de Jesus ao longo de uma grande caminhada da Galileia até Jerusalém, ou seja, da periferia geográfica e social ao centro econômico, político, cultural e religioso da Palestina. A Palavra, no Evangelho de Lucas, é a palavra de um leigo, de um camponês galileu, “alguém de Nazaré”, pessoa simples, pequena, alguém que vem da grande tribulação. Não é palavra de sumo sacerdote, nem do poder.
3.2) Prioriza a formação de base. Nessa grande viagem, subida para Jerusalém, Jesus prioriza a formação dos discípulos e das discípulas. Ele percebe que não tem mais aquela adesão incondicional da primeira hora. Jesus descobriu que para consolar os aflitos era necessário incomodar os acomodados e denunciar as pessoas e as estruturas injustas e corruptas. Assim, o jovem de Nazaré começou a perder apoio popular. Era necessário caprichar na formação de um grupo menor que pudesse garantir os enfrentamentos que se avolumavam. Jesus sabia muito bem que em Jerusalém estava o centro dos poderes religioso, econômico, político e judiciário. Lá travaria o maior embate.
3.3) Não foge do combate. O Evangelho de Lucas diz: Jesus, cheio do Espírito, em uma proposta periférica alternativa, vai, em uma caminhada, de Nazaré a Jerusalém; ou seja, vai da periferia para o centro, caminhando no Espírito. Em Jerusalém acontece um confronto entre o projeto de Jesus e o projeto oficial. Este tenta matar o projeto de Jesus (e de seu movimento) condenando-o à morte na cruz. Mas o Espírito é mais forte que a morte. Jesus ressuscita. No final do Evangelho de Lucas, Jesus diz aos discípulos: “Permaneçam em Jerusalém até a vinda do Espírito Santo” (Lc 24,49).
3.4) Sempre em movimento. Seguir Jesus exige uma dinâmica de permanente movimento. A sociedade capitalista leva-nos a buscar segurança, o que é uma farsa. É hora de aprendermos a seguir Jesus de forma humilde e vulnerável, porém mais autêntica e real. Isso não quer dizer distrair com costumes e obrigações que provêm do passado, mas não ajudam a construir uma sociedade justa, solidária e sustentável ecologicamente.
3.5) Anda na contramão. Seguir Jesus implica andar na contramão, remar contra a correnteza de tantos fundamentalismos e da idolatria do consumismo. Exige também rebeldia, coragem, audácia diante de costumes que entortam o queixo e de modas que aniquilam o infinito potencial humano existente em nós.
3.6) Sabe a hora de conviver e a hora de lutar. O Evangelho de Lucas apresenta dois envios de discípulos para a missão. No primeiro envio (Lc 10,1-11), Jesus indicou aos discípulos que fossem despojados e desarmados para o campo de missão. Assim deve ser todo início de missão: conhecer, conviver, estabelecer amizades, cativar, assumir a cultura do outro, tornar-se um/a irmã/ão entre as/os irmãs/ãos para que seja reconhecido como “um dos nossos”. No segundo envio (Lc 22,35-38), em hora de luta e combate, Jesus sugere que os discípulos devem ir preparados para a resistência. Por isso “pegar bolsa e sacola, uma espada – duas no máximo.” (Lc 22,36-38). Durante a evolução da missão, chega a hora em que não basta esbanjar ternura, graciosidade e solidariedade. É preciso partir para a luta coletiva, pois as injustiças precisam ser denunciadas. Ao tomar partido e “dar nomes aos bois” irrompem-se as divisões e desigualdades existentes na realidade. Os incomodados tendem naturalmente a querer calar quem os está incomodando. É a hora das perseguições que exigem resistência. Confira a trajetória de vida dos/as mártires da caminhada: Padre Josimo, Padre Ezequial Ramin, Chico Mendes, Margarida Alves, Sem Terra de Eldorado dos Carajás, Irmã Dorothy Stang, Santo Dias, Chicão Xucuru, Padre Gabriel, padre Henrique, João Canuto etc.




[1] Esse texto é a 1ª parte de um Artigo publicado como Capítulo V do livro CEBs: Raízes e Frutos, ontem e hoje,  Benedito Ferraro e Nelito Dornelas (org.), Brasília, DF: Scala Editora, 2014, pp. 64-74.
[2] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma; doutorando em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina; conselheiro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos de Minas Gerais – CONEDH; e-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.freigilvander.blogspot.com.br - www.gilvander.org.brwww.twitter.com/gilvanderluis - facebook: Gilvander Moreira